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PRODUTIVIDADE NO BRASIL

TEMÁTICA GLOBAL:

Conjuntura Política Nacional

Conjuntura Econômica Nacional

Conjuntura Social Nacional

 

 

COLABORADOR:

Acadêmico Alexandre Espírito Santo

Cátedra 064

 

CENÁRIO

 

Nosso país é a oitava economia do mundo, em termos de PIB. Num planeta, com quase 200 países, ser o oitavo colocado não é nada mal. Quando olhamos, no entanto, avaliações que envolvem métricas qualitativas, e não quantitativas, aí ficamos devendo bastante. No rol do IDH, por exemplo, ficamos abaixo do número 50.

No exame PISA, uma prova de avaliação global de ensino de ciências, matemáticas e leitura, nossos alunos são pessimamente avaliados. Mais de 60% dos nossos estudantes não conseguem, sequer, terminar a prova. Na última edição, com 70 países, nossos jovens ficaram em 58º em leitura, 63º em matemática e 68% em ciências.

Segundo dados da Confederação Internacional de Robótica (IFR), o Brasil possui 10 robôs para cada 10 mil trabalhadores; a média global é de 74. Num ranking entre 44 países que usam tecnologias desse tipo, nosso país fica em 39º lugar.

Esses são alguns exemplos que explicam grande parte das mazelas econômicas e sociais do Brasil, e que passam pela questão da produtividade, o que acaba nos deixando nessas posições nada auspiciosas.

Dados da Organização Internacional do Trabalho  (OIT), cruzados com informações da OCDE, apontam que um trabalhador brasileiro leva 6 dias para produzir algo comparável ao que um americano produz num  único dia e um alemão é quatro vezes mais produtivo que um de nós.

 

As causas para tal situação são as mais variadas, passando por: a) Educação; b) Deslocamento até o trabalho; c) Falta de infraestrutura e d) Burocracias. Esse estado de coisas provoca uma brutal diferenciação na remuneração do trabalhador. Enquanto um americano recebe U$ 100 mil anuais, um brasileiro recebe cerca de U$ 23 mil.  Nosso país, infelizmente, desperdiçou uma extraordinária oportunidade de aumentar a produtividade quando da época do boom das commodities, no início do século XXI.

Ali, com a China crescendo a velocidade média de  10% a.a., como grande consumidora de commodities, os preços das mesmas dispararam, o que nos ajudou a crescer, com baixa inflação e desemprego. Ao mesmo tempo que entravam bilhões de dólares em nosso país, as reservas internacionais cresciam.

 

Os enormes fluxos de entrada de dólares para um país podem colaborar sobremaneira para a elevação da produtividade. Isso decorre, basicamente, pois as importações se beneficiam com a valorização da moeda local, o que estimularia o investimento em novas máquinas e equipamentos que permitiriam a troca de um parque industrial obsoleto por um mais moderno.

 

A TEORIA

 

Em linhas gerais, produtividade é uma forma de se mensurar como empresas e trabalhadores transformam os fatores de produção (terra, capital e trabalho) em bens e serviços.

Admita, por simplificação, que na economia existam somente dois fatores de produção:

mão de obra (N) e capital (K), sendo que a primeira é variável e o segundo constante (fixo). Logo, a função de produção desse país seria expressa por:

Q = f (N,K), como K é fixo então Q = f(N)

 

Assim, o produto total da economia seria representado por Q.

Produtividade média do trabalho, mão de obra, será chamada de PMeN e a do capital de PMeK. Matematicamente poderemos escrever como:

PMeN = Q/N e PMeK = Q/K

 

Outro conceito microeconômico bastante relevante diz respeito às produtividades marginais. Elas podem ser assim expressas:

PMgT = ΔQ/ΔN e PMgK = ΔQ/ΔK

 

Matematicamente, podemos dizer que ambas são as derivadas da função de produção, quando contínuas e diferenciáveis.

 

Explicando para um leigo, podemos nos auxiliar com a tabela abaixo, onde analisamos as produtividades para o fator de produção trabalho.

 

Como pode-se notar, a produção aumenta até o sexto trabalhador e depois começa a cair, obedecendo a chamada lei dos rendimentos decrescentes.  Já, à medida em que vamos adicionando novas trabalhadores, a PMeN também começa a cair e a PMgN zera, depois ficando negativa.

 

PROPOSTAS PARA AUMENTAR A PRODUTIVIDADE DO TRABALHADOR

 

Segundo relatório de março de 2018 do Banco Mundial,  a produtividade do trabalhador brasileiro cresce, em média, 0,7% a.a., o que implica que nosso crescimento de PIB, com tal figura, ficaria restrito a 1,8% a.a. Segundo o relatório, hoje um trabalhador médio no Brasil é apenas cerca de 17% mais produtivo do que há 20 anos. Entre trabalhadores médios de países de alta renda, o aumento no período foi de 34%.

 

Estudos alternativos, como da consultoria Oliver Wyman, apontam que a produtividade do nosso trabalhador, medida pelo índice PTF, regrediu ao ano de 1994.  É preciso mudar essa situação. Assim, o Governo precisa implementar uma agenda de reformas macro e microeconômicas, que permitam uma mudança na produtividade do país.

 

Nossas propostas nesse sentido são:

1) Abrir o país à concorrência estrangeira, para elevar a competição – Nesse sentido, é preciso promover, sem cautelas excessivas, o país a setores de alta tecnologia, que podem colaborar com modernas técnicas produtivas;

 

2) Estímulo à pesquisa científica e maior integração global do país nos grandes centros de estudos mundiais

– Criar condições de acesso aos nossos pesquisadores com convênios internacionais, além de incentivar os centros de pesquisas já existentes a investirem pesadamente em novos cientistas, com estímulo ao doutorado no exterior;

 

3) Redução drástica do chamado custo Brasil, que envolve a burocracia – Promover uma profunda reforma tributária, para que se reverta essa guerra fiscal entre estados, com prejuízos para muitos. Além disso é preciso (re)criar um órgão (enxuto) que se dedique à

redução drástica da burocracia estatal, que dificulta o desenvolvimento e encarece a produção no país, inclusive na educação e formação técnica. É preciso acabar com esse estigma de sermos um país cartorial, onde se cria dificuldades para vendermos facilidades, o que alimenta a corrupção;

 

4) Investimentos pesados em educação, com foco no ensino médio/técnico – O Governo deve priorizar a educação fundamental e média e as escolas técnicas, que permitem formação profissional importante para a juventude, que está amargando elevado desemprego.

Nesse sentido, os investimentos em ensino superior (já inchado por muitas IES) devem ser lateralizados, salvaguardando as instituições já existentes;

 

5) Aperfeiçoamento da reforma trabalhista – A reforma conduzida pelo governo Temer teve pontos interessantes, mas é preciso ir além. Nesse sentido, o ideal é que se mantenha os acordos entre patrões e empregados e a questão sindical deve ser discutida para que se reduza a “indústria dos sindicatos”, inclusive patronais, mas se rediscuta aspectos que possam ajudar aos trabalhadores a serem mais produtivos;

 

6) Reformulação do BNDES, utilização de bancos privados e mercado de capitais como financiadores de infraestrutura, incluindo fintechs – O BNDES, infelizmente, foi usado politicamente como banco de apadrinhamento político nos governos recentes, como deslindou a operação Lava Jato. Nesse sentido, o BNDES deveria mudar as regras de financiamento, via TLP, e o governo deveria incentivar que as grandes empresas passem a se utilizar de financiamento via mercado de capitais (IPO na bolsa de valores) para grandes projetos de infraestrutura (setores diversos), bem como incentivar que pequenos empresários busquem fintechs para angariar capital. Nosso pensamento é que o Governo consiga mitigar essa deterioração em curso ao longo do seu mandato e prepare um salto para a próximo década, caso adote, pelo menos parcialmente, as propostas acima elencadas

 

 

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